Estresse, insônia e infecções dos mais diversos tipos compõem a lista de encrencas que a poluição sonora pode causar.
Decibéis muito acima do tolerável ocupam hoje o terceiro lugar no ranking de problemas ambientais que mais afetam populações do mundo inteiro, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) — a poluição do ar e a da água estão na dianteira. Não se trata de simples incômodo. Barulho mata. Só por infarto, são 210 mil vítimas fatais todo ano — aponta um relatório da OMS que deveria, este sim, sair da surdina para soar em alto volume
Com tanto zunzunzum de carros, buzinas, telefones, eletrodomésticos, tocadores de MP3, um número incalculável de pessoas passou a sofrer, além dos óbvios distúrbios auditivos, de dor de cabeça crônica, hipertensão, alterações hormonais e insônia.
Só para você ter uma ideia, o trânsito em cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Salvador alcança facilmente os 80 decibéis, o mesmo que um liquidificador ligado a 1 metro de distância. E, de acordo com a OMS, todo e qualquer som que ultrapasse os 55 decibéis já pode ser considerado nocivo para a saúde.
Seria preciso viver isolado feito um ermitão para passar incólume pelo estresse acústico, carga de tensão que age como gatilho para todas as encrencas relacionadas à vida moderna e barulhenta. Como, na prática, isso é impossível para a maioria nos grandes centros urbanos, o corpo entra numa espécie de alerta. A musculatura fica tensionada, o coração dispara, a pressão arterial sobe, o estômago fica cheio de suco gástrico e o intestino trabalha bem devagarinho. Quem trabalha em locais onde o nível de ruído vai às alturas sabe disso muito bem. Às vezes a pessoa sente dificuldade para relaxar até quando chega em casa, de tão elétrica que ficou durante o dia. Tanta excitação assim costuma levar a quadros de hiperatividade, agressividade, mau humor, depressão e até bipolaridade. NOITES MALDORMIDAS. “Enquanto os outros sentidos descansam durante o sono, os ouvidos, ao contrário, se mantêm em estado de alerta”, explica o engenheiro ambiental Eduardo Murgel, especialista em acústica em São Paulo. Quando os sons não passam dos 35 decibéis — nível encontrado em uma biblioteca, por exemplo —, a noite corre tranquila e sem sobressaltos. Mas acima disso o sono vai ficando cada vez mais superficial, mesmo que não se chegue a acordar de fato com o barulho. “Se, durante a noite, o nível de ruído atinge os 75 decibéis, como em uma rua movimentada, há uma perda de 70% nos estágios profundos do descanso, fundamentais para a consolidação da memória e do aprendizado e também para a renovação das células do corpo”, ressalta o neurofisiologista Fernando Pimentel-Souza. Isso explica por que muita gente se sente sonolenta e cansada após passar uma noite em local barulhento. “Pular as etapas de sono profundo deixa a pessoa menos inteligente e criativa”, acrescenta Pimentel-Souza de forma categórica.
Fonte: Planeta saudável; Revista Saúde; Revista abril